O segundo ciclo musical no Benedita Cineclube se encerra na próxima quinta, 10/2 às 19h com a trajetória de dois sambistas Riachão e Germano Mathias.
O diretor Jorge Alfredo usa como pano de fundo a trajetória de Clementino Rodrigues, o popular sambista baiano Riachão, de 80 anos de idade, para contar a importância do samba para o povo brasileiro. O filme apresenta também um panorama do samba na Bahia, onde Riachão viveu mais de seis décadas influenciando gente como Caetano Veloso e Tom Zé. Samba Riachão venceu o prêmio de melhor filme no 34° Festival de Brasília na escolha do público e júri. Na mesma roda de samba de Riachão está Germano Mathias no documentário O Catedrático do Samba, um valioso registro sobre a vida do cantor e compositor paulista. Ao longo do filme, ele vai lembrando o início de tudo, com os engraxates na Praça da Sé.
O Catedrático do Samba, de Alessandro Gamo e Noel Carvalho , SP, 1999
Perfil do cantor e compositor paulistano Germano Mathias, traçado em estilo solto e malandro como o do sambista.
Samba Riachão, de Jorge Alfredo , BA, 2001
Aos 80 anos de idade, Riachão é o cronista musical da cidade de Salvador, tendo vivenciado todas as transformações pelas quais passou a música popular brasileira e os meios de comunicação no decorrer do século XX. É através das histórias deste cronista que o filme apresenta um relato histórico da MPB.
CRÍTICA
Samba, Riachão! por Marcos Pierry
Para uns, Clementino Rodrigues é um compositor pueril. Para outros, um moleque solto na vida. E há quem ache os seus sambas uma coisa mordente. Vão direto na veia. Clementino é o octagenário sambista baiano Riachão, em nome de quem o cineasta Jorge Alfredo concebeu o documentário Samba Riachão. O filme se propõe, na verdade, a um exercício investigativo sobre o artista e ao mesmo tempo sobre o gênero musical que este animado bamba de Salvador pratica há mais de cinqüenta anos.
Dezenas de convidados participam do longa-metragem, falando sobre Riachão, cantando e dançando as suas músicas, especulando sobre as origens do samba e a eventual proeminência de diferentes estados brasileiros na criação deste universo rítmico capaz de ancorar uma expressiva parcela da cultura nacional.
Mas o que enche mesmo a tela é a imagem de Riachão. E olha que, ao longo de oitenta minutos, passam pelo écran performers de peso dos mais variados naipes – os tropicalistas Tom Zé, Caetano Veloso e Gilberto Gil, o virtuose Armandinho, a dançarina Roseane Pinheiro, Dorival Caymmi, entre muitos outros. Não importa, é Riachão, pequeno, franzino, quem comanda o show. E para ele, tudo termina em samba. O tempo inteiro a saracotear o corpo, fagueiro no movimento de pés e mãos. O tempo inteiro a sorrir, mesmo quando chora ou denuncia a negligência de sua Bahia com o gênero que, pelo menos até hoje, melhor expressa a musicalidade local.
Sua estampa “óculos escuros, correntes/colares e anéis grossos, o bigode mínimo chapliniano e a indefectível toalha no pescoço” é um prato cheio aos olhares ávidos por encontrar uma figura cult, para usar o termo caro na releitura contemporânea, em qualquer artista popular genuíno. A autenticidade, e o domínio de cena, do cantor e compositor acaba pondo à prova a necessidade de uma lista tão longa de entrevistados em Samba Riachão.
Uma montagem mais afiada tornaria o filme de Jorge Alfredo mais conciso, ainda mais ao levar-se em conta o desafio da aparente duplicidade temática: um sambista e/ou o samba. Assim, ficam fora de contexto imagens até representativas, como o plano que mostra a subida do bloco afro Ilê Aiyê durante o carnaval de Salvador, ou depoimentos poéticos, a exemplo da hipótese de Carlinhos Brown para o nascimento do samba (“nasceu na vontade de chegar aqui, precisou de porto”). Nada, porém, que derrube a peteca. Alfredo, além de documentarista, é músico. E sua jam session de samba e cinema está bem acima da média.
Completa o programa o curta-metragem O Catedrático do Samba, de Alessandro Gamo e Noel Carvalho, sobre o cantor e compositor paulistano Germano Matias. O filme traz histórias saborosas contadas pelo próprio sambista, único entrevistado da película, com destaque para o itinerário das gafieiras freqüentadas por Germano, nascido em 1934, a descoberta das latinhas de engraxate como instrumento musical e a nostalgia do músico ao lembrar do centro antigo de São Paulo. Os realizadores marcam um tento ao valorizar as tomadas externas com a presença orgânica do Germano, intérprete que mais de uma vez soube esquecer as diferenças bairristas ao gravar composições de calibre de sambistas cariocas.
serviço:
O Benedita Cineclube acontece no Espaço Cultural Sinhá Prado – Av. Virgílio de Melo Franco, 481 – Cambuquira-MG.
Samba Riachão e o Catedrático do Samba – qui 10/02, 19h
Classificação Livre
Duração: 109 min
Entrada gratuita!