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Samba Riachão e o Catedrático do Samba

fevereiro 6, 2011

O segundo ciclo musical no Benedita Cineclube se encerra na próxima quinta, 10/2 às 19h com a trajetória de dois sambistas Riachão e Germano Mathias.

O diretor Jorge Alfredo usa como pano de fundo a trajetória de Clementino Rodrigues, o popular sambista baiano Riachão, de 80 anos de idade, para contar a importância do samba para o povo brasileiro. O filme apresenta também um panorama do samba na Bahia, onde Riachão viveu mais de seis décadas influenciando gente como Caetano Veloso e Tom Zé. Samba Riachão venceu o prêmio de melhor filme no 34° Festival de Brasília na escolha do público e júri. Na mesma roda de samba de Riachão está Germano Mathias no documentário O Catedrático do Samba, um valioso registro sobre a vida do cantor e compositor paulista. Ao longo do filme, ele vai lembrando o início de tudo, com os engraxates na Praça da Sé.

O Catedrático do Samba, de Alessandro Gamo e Noel Carvalho , SP, 1999

Perfil do cantor e compositor paulistano Germano Mathias, traçado em estilo solto e malandro como o do sambista.

Samba Riachão, de Jorge Alfredo , BA, 2001

Aos 80 anos de idade, Riachão é o cronista musical da cidade de Salvador, tendo vivenciado todas as transformações pelas quais passou a música popular brasileira e os meios de comunicação no decorrer do século XX. É através das histórias deste cronista que o filme apresenta um relato histórico da MPB.

 

Riachão!

CRÍTICA

Samba, Riachão!  por Marcos Pierry
Para uns, Clementino Rodrigues é um compositor pueril. Para outros, um moleque solto na vida. E há quem ache os seus sambas uma coisa mordente. Vão direto na veia. Clementino é o octagenário sambista baiano Riachão, em nome de quem o cineasta Jorge Alfredo concebeu o documentário Samba Riachão. O filme se propõe, na verdade, a um exercício investigativo sobre o artista e ao mesmo tempo sobre o gênero musical que este animado bamba de Salvador pratica há mais de cinqüenta anos.

Dezenas de convidados participam do longa-metragem, falando sobre Riachão, cantando e dançando as suas músicas, especulando sobre as origens do samba e a eventual proeminência de diferentes estados brasileiros na criação deste universo rítmico capaz de ancorar uma expressiva parcela da cultura nacional.

Mas o que enche mesmo a tela é a imagem de Riachão. E olha que, ao longo de oitenta minutos, passam pelo écran performers de peso dos mais variados naipes – os tropicalistas Tom Zé, Caetano Veloso e Gilberto Gil, o virtuose Armandinho, a dançarina Roseane Pinheiro, Dorival Caymmi, entre muitos outros. Não importa, é Riachão, pequeno, franzino, quem comanda o show. E para ele, tudo termina em samba. O tempo inteiro a saracotear o corpo, fagueiro no movimento de pés e mãos. O tempo inteiro a sorrir, mesmo quando chora ou denuncia a negligência de sua Bahia com o gênero que, pelo menos até hoje, melhor expressa a musicalidade local.

Sua estampa “óculos escuros, correntes/colares e anéis grossos, o bigode mínimo chapliniano e a indefectível toalha no pescoço”  é um prato cheio aos olhares ávidos por encontrar uma figura cult, para usar o termo caro na releitura contemporânea, em qualquer artista popular genuíno. A autenticidade, e o domínio de cena, do cantor e compositor acaba pondo à prova a necessidade de uma lista tão longa de entrevistados em Samba Riachão.

Uma montagem mais afiada tornaria o filme de Jorge Alfredo mais conciso, ainda mais ao levar-se em conta o desafio da aparente duplicidade temática: um sambista e/ou o samba. Assim, ficam fora de contexto imagens até representativas, como o plano que mostra a subida do bloco afro Ilê Aiyê durante o carnaval de Salvador, ou depoimentos poéticos, a exemplo da hipótese de Carlinhos Brown para o nascimento do samba (“nasceu na vontade de chegar aqui, precisou de porto”). Nada, porém, que derrube a peteca. Alfredo, além de documentarista, é músico. E sua jam session de samba e cinema está bem acima da média.

Completa o programa o curta-metragem O Catedrático do Samba, de Alessandro Gamo e Noel Carvalho, sobre o cantor e compositor paulistano Germano Matias. O filme traz histórias saborosas contadas pelo próprio sambista, único entrevistado da película, com destaque para o itinerário das gafieiras freqüentadas por Germano, nascido em 1934, a descoberta das latinhas de engraxate como instrumento musical e a nostalgia do músico ao lembrar do centro antigo de São Paulo. Os realizadores marcam um tento ao valorizar as tomadas externas com a presença orgânica do Germano, intérprete que mais de uma vez soube esquecer as diferenças bairristas ao gravar composições de calibre de sambistas cariocas.

serviço:
O Benedita Cineclube acontece no Espaço Cultural Sinhá Prado – Av. Virgílio de Melo Franco, 481 – Cambuquira-MG.

Samba Riachão e o Catedrático do Samba – qui 10/02, 19h

Classificação Livre

Duração: 109 min

Entrada gratuita!

 

O Samba no Cinema: Ficção

fevereiro 1, 2011

Na quinta, 3/2 às 19h será exibido o terceiro programa do ciclo de música brasileira “O Samba no Cinema: Ficção”. O programa faz parte da Programadora Brasil e conta com os curtas:

Com que Roupa? de Ricardo van Steen , RJ, 1996

Do Dia em que Macunaíma e Gilberto Freyre Visitaram… , de Sérgio Zeigler e Vitor Angelo , SP, 1998

Operação Morengueira , deChico Serra , RJ, 2005

Polêmica, de André Luiz Sampaio , RJ, 1999

Zezé Mota em "Polêmica"

É natural pensar que samba e cinema brasileiro combinam. Estes quatro curtas retratam personagens reais da história do samba, de forma ficcional. Começamos pelo pretenso momento em que Donga cria “Pelo Telefone”, considerado o primeiro samba de todos os tempos; passamos por dois sambistas da mais alta grandeza, Moreira da Silva e Noel Rosa; para acabar na famosa rixa do último com Wilson Batista. Câmera na mão e samba no pé.

Cena de "Operação Morangueira"

SONORIDADES INOVADORAS: Hermeto e Tom Zé

janeiro 24, 2011

O ciclo de programas sobre música brasileira no Benedita Cineclube tem sua segunda sessão na próxima quinta, 27/1 às 19h com os mestres Hermeto Paschoal e Tom Zé.

Programa histórico-musical que reúne documentários sobre dois músicos que nasceram em 1936 e que têm em comum a integração de sonoridades de objetos não-convencionais em suas criações. No Rio de Janeiro, o alagoano Hermeto Paschoal em seu processo de criação cuidadosamente registrado no início dos anos 1980 pelo veterano documentarista Thomaz Farkas. Em São Paulo, na virada do século, em documento bastante rigoroso – mais do que urgente – da jovem diretora Carla Gallo, o baiano Tom Zé expõe suas idéias, obsessões, fraquezas e grandezas. (Fonte: Programadora Brasil)

A sessão começa com Hermeto campeão, de Thomaz Farkas SP, 1981, Documentário, Colorido, 35 min.

Hermeto Pascoal é incontestavelmente um dos maiores músicos brasileiros. O filme evoca a inspiração, a maneira de compor e os pontos de vista de Hermeto Pascoal sobre a fama, o dinheiro e o trabalho. Hermeto Pascoal toca com os sapos e compõe com as abelhas. Os componentes do conjunto fazem um pequeno depoimento sobre o que é trabalhar com Hermeto Pascoal.

Ficha Técnica

Direção: Thomaz Farkas
Roteiro: Thomaz Farkas
Produção Executiva: Thomaz Farkas
Direção Fotografia: Pedro Farkas
Fotografia de Cena: Não
Montagem/Edição: Junior Carone
Técnico de Som Direto: David Pennington
Sound Designer: Junior Carone

Tom Zé, ou quem irá colocar uma dinamite na cabeça do século? de Carla Gallo SP, 2000, Documentário, Colorido, 48 min.

Retrato estético do cantor e compositor Tom Zé

Ficha Técnica

Direção: Carla Gallo
Elenco: Depoimentos: Tom Zé, Hans-Joachim Koellreutter
Produção Executiva: Carla Gallo
Direção de Produção: Carla Gallo – Produção: Celso Camargo, Priscilla Migliano, Carla Gallo
Direção Fotografia: Jay Yamashita
Operador de Câmera: Jay Yamashita, Luiz Duva, Sergio Zeigler, André Finotti, André Francioli, Christian Shagaard
Montagem/Edição: Tatiana Lohmann
Direção de Arte: Eduardo Climachauska
Técnico de Som Direto: Gabriela Cunha e Bruno Carneiro

Crítica

Dois inventores, por Cléber Eduardo*

Em um dado momento de Hermeto Campeão (1981), de Thomas Farkas, a tela escurece por muitos segundos. Ficamos a ouvir o coral dos sapos e as intervenções sonoras de Hermeto Paschoal. Em um dado momento de Tom Zé ou Quem irá Colocar uma Dinamite na Cabeça do Século? (2000), de Carla Gallo, a tela escurece, com pequenas aparições de linhas gráficas brancas de tempos em tempos, depois das quais voltamos à escuridão. Ficamos a ouvir “Toc”, do álbum Estudando o Samba, do começo dos anos 1970, também sem uma imagem a nos conduzir.

Nesses dois médias-metragens realizados com quase 20 anos de diferença, resultados da decisão de seus diretores de apontar a câmera e o microfone para inventores inquietos da música brasileira (Hermeto Paschoal e Tom Zé), é notável a proximidade entre os procedimentos nesses momentos mencionados. Em ambos, a imagem se retira e deixa o som ficar a sós. Farkas e Carla procuram integrar-se com a linguagem e com a lógica sonoro-musical de seus “personagens” em vez de imporem a eles uma estética planejada a priori.

Hermeto o Campeão é Hermeto Paschoal em ação. Ou seja, ensaiando, gravando, tocando, experimentando sons, ruminando frases. O som de sua voz nunca está em sua boca. Enquanto instrui instrumentistas ou reflete sobre dinheiro e arte, vemos outras imagens, sejam fotos de conhecidos, sejam imagens de sua casa, família, ensaios. O ensaio é a situação mais recorrente. São os momentos em que a câmera detém-se na experiência, circula em torno do músico, procura detectar o instante da criação.

Essa atenção para o que a câmera está olhando, para especialmente o músico em sua invenção, é reivindicada pela experimentação musical. Hermeto é um agente da surpresa e da aventura criativa. Onde deverá estar a câmera em um momento de invenção musical? Essa dúvida é incorporada pela própria operação da câmera, que, eventualmente, não parece saber para onde se dirigir e com qual mobilidade se locomover. Uma câmera em sincera dúvida sobre a melhor maneira de captar Hermeto.
Se Hermeto é menos carisma verbal e mais uma imagem em cena, Tom Zé ou Quem irá Colocar uma Dinamite na Cabeça do Século? lida com o contrário. Tom Zé é falante, tem uma performance oral e corporal, além de, ao contrário de Hermeto, possuir capacidade de auto-análise. Esse show da fala de Tom Zé, com virtuosismos de fabulador ao narrar as histórias de sua infância, revela um núcleo “olho no olho”, com trechos captados no estúdio pautando a dinâmica visual (entrevistas, improvisos musicais, performances). A mobilidade desse núcleo “interno e interativo”, centrado nas retórica e no carisma de Tom Zé, é perseguida pelas mudanças de ângulo e de distância da câmera.

Se Hermeto é a invenção pela qual a câmera está à espera, não sem ansiedade, porque aguarda o futuro imediato daquele momento (o estar por vir), Tom Zé carrega em sua ansiedade todo o rastro de um passado, com o qual está sempre a acertar contas. Procura-se uma perspectiva retroativa, de quem viveu um processo e tenta tirar alguma lição daquilo, com passado e presente conectados por imagens de arquivo, por sua vez em diálogo com imagens contemporâneas. Hermeto é mostrado por Farkas. Tom Zé é codificado, decodificado e ritualizado por Carla Gallo.

serviço: O Benedita Cineclube acontece no Espaço Cultural Sinhá Prado – Av. Virgílio de Melo Franco, 481 – Cambuquira-MG. SONORIDADES INOVADORAS: Hermeto e Tom Zé – qui 27/01, 19h

Classificação Livre

Duração: 78 min

Entrada gratuita!

SAMBA E BOSSA NOVA: MÚSICA DO BRASIL

janeiro 17, 2011

Na próxima quinta, 20 de janeiro às 19h o Benedita Cineclube abre seu segundo ciclo musical (vide programação de abril/2010). Desta vez, a música brasileira é a personagem principal das próximas semanas.

O ciclo começa com o excelente programa da Programadora Brasil, SAMBA E BOSSA NOVA: MÚSICA DO BRASIL.

Quem faz a música popular brasileira? São poetas, malandros, guerreiros, amantes, palhaços e colombinas. Saem dos cortiços, morros e arranha-céus, chegam de jangada nas praias, comem mocotó e feijoada, desembarcam no aeroporto de Paris. Os sete documentários reunidos nesta compilação mostram o dia-a-dia, as apresentações, gravações e entrevistas em deliciosos registros dessa grande paixão brasileira. Partindo do samba de Pixinguinha, Noel Rosa e Heitor dos Prazeres, passando por Martinho da Vila e João Nogueira, com um breque na bossa nova de João Gilberto, avança até a MPB de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Maria Bethânia, Nara Leão e Jards Macalé.

Álbum de Música, de Sérgio Sanz, RJ, 1974

Músicas de Pixinguinha, Almirante, Ismael Silva, Nelson Cavaquinho e Cartola. Gilberto Gil e Jards Macalé comentam o filme. Depoimentos de Nara Leão e Nelson Motta sobre a música popular brasileira.

Cartola, em Álbum de Música

Brasil, de Rogério Sganzerla , RJ, 1981

Curta-metragem comemorativo do lançamento do décimo disco durante o cinqüentenário de nascimento de João Gilberto. Com trilha intitulada “Brasil”, gravado com Caetano, Gil e Maria Bethânia. A execução do disco em diferentes fases e distâncias, registradas em contraponto com flashes de personalidades da vida nacional, representados em uma situação limite (O que é o Brasil? O que é o brasileiro?) – “O Brasil, dizia Oswald de Andrade, “ vive em estado de sítio desde a idade trevosa das capitanias”.

Cetano, Bethânia e João Gilberto em BRASIL

 

Carioca, suburbano, mulato, maladro – João Nogueira, de Jom Tob Azulay, RJ, 1979

Documentário sobre o cantor e compositor popular do Rio de Janeiro, João Nogueira

Heitor dos Prazeres, de Antonio Carlos da Fontoura, RJ, 1965

Memórias do sambista popular e pintor primitivo Heitor dos Prazeres, em seu atelier na Cidade Nova, bairro em santa decadência do Rio de Janeiro, mas ainda vivo nos sambas, nos quadros e nas recordações do artista.

Martinho da Vila Paris 1977, de Ari Candido Fernandes , SP, 1977

Trata-se de documentario realizado em Paris em 1977, registrando a passagem por Paris em Tour de apresentações na capital francesa do cantor e compositor popular brasileiro Martinho da Vila .Com depoimentos espontaneos,gravações em estudio de TV,apresentação no clube musical Campagne Premiére,reunido com amigos em casa,em frente ao Cafe Via Brasil,andando por ruas no Quartier Latin,Torre Eiffel,Parques,Montmartre,Montparnasse,bares e cafés iluminado por luzes de néon na cidade das Luzes-ou seja Paris.Além de intimo depoimento sobre as exigencias de emrpesrios brasileiros,comparação entre o metro de Paris e trens suburbanos cariocas,critica ironica a classe média que vem à Paris só pra tirar fotos lembrançinhas em frente á monumentos turisticos da cidade e mais: o que o mesmo fará após alguns anos de carreira…

Martinho da Vila em cena do filme

 

Noel por Noel, de Rogério Sganzerla , RJ, 1981

Ensaio documental sobre a música e o tempo de Noel Rosa, com colagens de imagens de arquivo, fotografias de época e e filmagens de blocos carnavalescos na Vila Isabel.

Pixinguinha e a velha guarda do samba, de Ricardo Dias e Thomaz Farkas, SP, 2006

Em abril de 1954 Thomaz Farkas filmou, com uma câmera 16mm de corda, uma apresentação de Pixinguinha e o Pessoal da Velha Guarda, no parque do Ibirapuera em São Paulo, nos festejos do IV Centenário da cidade. Este material se perdeu e foi reencontrado 50 anos depois. O filme conta esta história e recupera o material.

Pixinguinha e a Velha Guarda do Samba

CRÍTICA

País musical, por Marcus Mello

A riqueza do patrimônio musical brasileiro, em especial o samba e a bossa nova, é o mote temático deste programa, que reúne sete curtas-metragens, realizados entre 1965 e 2006. Em Brasil (1981), Rogério Sganzerla documenta os bastidores da gravação do disco homônimo de João Gilberto, que contou com a participação de Caetano Veloso, Gilberto Gil e Maria Bethânia. Paralelamente, o diretor organiza um caleidoscópio de imagens, que incluem a passagem de Orson Welles pelo Brasil para as filmagens do inacabado It’s All True, além de performances de artistas como Grande Otelo, Ary Barroso, Dorival Caymmi e Eros Volúsia. Um genial rascunho para os três longas que Sganzerla depois dedicaria à frustrada experiência de Welles no país, Nem tudo é verdade (1986), Tudo é Brasil (1998) e O signo do caos (2003).

Álbum de música (1974), de Sérgio Sanz, retrata o “saudável caos” da música popular brasileira na primeira metade da década de 1970. Conduzido pelo jornalista Nelson Motta, o espectador vê desfilar diante da câmera um notável elenco de personalidades da MPB, em registros raros.
Carioca, suburbano, mulato, malandro – João Nogueira (1979), de Jom Tob Azulay, traça um perfil do popular sambista João Nogueira, morto em 2000. O diretor acompanha Nogueira em rodas de samba regadas a cerveja e mocotó e a visitas a músicos da velha guarda da Portela, sua escola do coração, além de registrar a gravação em estúdio do clássico samba “Súplica”. Um valioso documento sobre um compositor sofisticado, cuja contribuição para a música popular brasileira ainda está para ser devidamente reconhecida.
Heitor dos Prazeres (1965), de Antônio Carlos da Fontoura, mostra a grande arte do pintor e compositor, autor de clássicos como “Pierrô Apaixonado” e de telas que registraram o colorido do carnaval carioca. Em seu ateliê na Praça Onze, elegante como um dândi, o artista relembra seu passado. Realizado um ano antes da morte de Heitor, o curta foi fotografado por Affonso Beato, que reproduz as cores exuberantes das telas do artista com a mesma maestria mais tarde colocada a serviço do diretor espanhol Pedro Almodóvar.
Martinho da Vila Paris 1977 (1977), de Ari Candido Fernandes, documenta uma viagem do cantor e compositor Martinho da Vila à capital francesa. A invasão do samba brasileiro ao Quartier Latin é mostrada através de imagens e depoimentos saborosos de Martinho, neste curta que tem sua montagem assinada pelo crítico de cinema Inácio Araújo.
Em Noel por Noel (1981), Rogério Sganzerla presta tributo ao grande compositor da Vila Isabel, morto com apenas 26 anos de idade. A meteórica carreira de Noel é condensada ao longo de 10 minutos por Sganzerla, que exercita sua montagem dialética organizando documentos, fotos, manuscritos e imagens da musa do compositor, Ceci. Um belo ensaio para o longa que Sganzerla sempre sonhou em dirigir sobre Noel, e acabou morrendo sem concretizar.
O programa encerra-se com Pixinguinha e a velha guarda do samba (2006), de Ricardo Elias e Thomaz Farkas. O curta traz um raro registro de Pixinguinha, feito pelo próprio Farkas durante uma apresentação do grande compositor realizada em São Paulo, em abril de 1954, no Parque do Ibirapuera. Com a colaboração de Ricardo Dias, Farkas recupera esse material e relembra o dia em que filmou, absolutamente por acaso, esse mestre da música popular brasileira em ação.

Marcus Mello: Crítico de cinema gaúcho, é editor da revista Teorema (RS) e colaborador das revistas Aplauso (RS) e Cinética (RJ). Programador da Sala P. F. Gastal, cinema mantido pela Secretaria Municipal da Cultura de Porto Alegre.

serviço:
O Benedita Cineclube acontece no Espaço Cultural Sinhá Prado – Av. Virgílio de Melo Franco, 481 – Cambuquira-MG.

SAMBA E BOSSA NOVA – qui 20/01, 19h

Classificação 12 anos.

Duração: 78 min

Entrada gratuita!


TÔNICA DOMINATE, de Lina Chamie e o curta SOFIA, de Alexandre Franco

abril 22, 2010

24 de abril, às 16h no Benedita Cineclube

SINOPSE

Três dias na vida de um jovem musicista.
No primeiro dia, o personagem passa por uma situação de solidão e fragilidade.
No segundo dia, o que era para ser um evento agradável acaba se transformando num pesadelo.
No terceiro dia, o jovem finalmente encontra a plenitude através da música.

Com
Fernando Alves Pinto
Vera Zimmermann
Carlos Gregório
Vera Holtz

Participação especial:
Sérgio Mamberti
Walderez de Barros
Carlos Moreno
Livio Tragtenberg

Roteiro e Direção: Lina Chamie
Produção Executiva: Zita Carvalhosa e Patrick Leblanc
Direção de Produção: Eliane Bandeira, Maria Ionescu e Caio Gullane
Direção de Fotografia: Kátia Coelho
Montagem: Paulo Sacramento
Edição de Som: Ana Chiarini e Eduardo Santos Mendes
Direção de Arte: Ana Mara Abreu
Figurino: Marjorie Gueller

ENTREVISTA COM LINA CHAMIE no site MNEMOCINE


*****


No mesmo dia 27, será exibido também o curta SOFIA, de Alexandre Franco.

SINOPSE

Sofia vive em um pequeno apartamento com o namorado e ensaia frequentemente com uma banda. Desencantada em seu cotidiano, um novo músico gera a expectativa de solucionar sua crise.

FICHA TÉCNICA

Roteiro/Direção: Alexandre Franco
Produção: Oscar R. Júnior  e Deici Dias
Montagem/Fotografia: Bernardo Garcia
Direção de Arte: Camila Martins
Som: Breno Furtado
Direção de Atores: Luíz Cudo

Elenco:
Débora Rossetto
Marcello Trigo
Igor Lima

Críticas e mais informações sobre SOFIA no blog: http://www.sofiacurta.blogspot.com/

DURVAL DISCOS dir. Anna Muylaert, BRASIL, 2002

abril 14, 2010

17 de abril no Benedita Cineclube

SINOPSE

Solteirão, com jeitão de hippie, tem uma loja de discos e ainda mora com a mãe. Com a chegada do CD, recusa-se a vendê-los, mantendo-se fiel ao vinil. O inesperado aparecimento de uma menina mudará para sempre as vidas de Durval e de sua mãe dominadora, mostrando que tudo na vida tem um lado A e um lado B, como nos LPs.

Ficha Técnica

Direção e roteiro: Anna Muylaert
Elenco: Ary França, Etty Fraser, Mariza Orth, Isabela Guasco, Letícia Sabatella, Rita Lee
Empresa Produtora: Dezenove Som e Imagens e África Filmes
Produção Executiva: Sara Silveira e Maria Ionescu
Direção de Produção: Caio Gullane
Direção Fotografia: Jacob Solitrenick
Montagem/Edição: Vânia Debs
Direção de Arte: Ana Mara Abreu
Figurino: Marisa Guimarães
Técnico de Som Direto: Romeu Quinto e Geraldo Ribeiro
Edição Som: Miriam Biderman
Mixagem: Jose Luiz Sasso
Trilha Musical: André Abujamra.

TRAILER

MAKING OF

BETE BALANÇO

abril 4, 2010

No próximo sábado, dia 10 de abril, sempre às 16h, o Benedita Cineclube exibe Bete Balanço.

O longa-metragem de estréia de Lael Rodrigues é o primeiro de uma trilogia composta por Rock Estrela e Rádio Pirata deu voz a geração oitentista do rock nacional: Barão Vermelho, Lobão, Banda Brylho, Manhas e Manias, Celso Blues Boy e Metralhatxeka. Cultuado na época do seu lançamento por um público sedento por consumir rock numa era pré-MTV e anterior à popularização do vídeo-clipe, o filme é conduzido pela batuta musical de Irapuã Jardim (direção de gravação) e Roberto de Carvalho (mixagem). Além da cena musical brasilera da chamada “década perdida”, o filme recupera também imagens da cidade do Rio de Janeiro pós-ditadura e pós-desbunde que marcaram os anos 80. A capital carioca é apresentada como um cartão postal que ultrapassa o fundo para as ações dos personagens e se apresenta como uma verdadeira personagem da trama.

SINOPSE

Bete é uma garota de Governador Valadares, recém aprovada no vestibular e cantora eventual do bar da cidade. Liberada na relação sexual com o namorado, curte teatro e sonha com um espaço maior para o seu prazer, na batalha do trabalho e da vida. A música atrai Bete para o Rio de Janeiro, pouco antes de completar 18 anos. Tudo o que experimenta, então, é uma inevitável sucessão de coisas boas e más.

O filme tem no elenco Débora Bloch, Lauro Corona, Maria Zilda, Diogo Vilela, Hugo Carvana, Arthur Muhlenberg, Jessel Buss, Duse Nacarati, Eleonora Rocha, Marcus Vinicius, Cláudio Moreno, Andréa Beltrão, Cláudio Baltaf, Lobão e os Ronaldos, Metralhatxeca e Celso Blues Boy.

Participação especial: Maria Zilda, Cazuza e Barão Vermelho.

FICHA TÉCNICA

Título: Bete Balanço
Duração: 72 min e 0 seg.
Ano: 1984
Cidade: Rio de Janeiro UF(s): RJ País: Brasil
Gênero: Ficção / Subgênero: Suspense

Classificação indicativa: 14 anos

EQUIPE

Direção: Lael Rodrigues
Roteiro: Lael Rodrigues e Yoya Wurch
Empresa(s) Co-produtora(s): CPC – Centro de Produção e Comunicação Ltda.
Produção: Carlos Alberto Diniz
Produção Executiva: Tizuka Yamazaki
Direção de Produção: Walter Schilke
Direção Fotografia: Edgar Moura
Montagem/Edição: Lael Rodrigues
Direção de Arte: Yurika Yamasaki
Trilha original: Cazuza e Roberto Frejat

“Quem tem um sonho não dança”
por Glênio Nicola Povoas.

Mesmo com um roteiro simples, este é um dos raros filmes brasileiros a buscar diálogo com público na faixa dos 18 anos, e por isso foi muito importante para os jovens da época. A trama melodramática apresenta alguns temas com sensibilidade, como a homossexualidade, na relação entre Bete e Bia; ou a do amigo Paulinho. Também procura engajamento social com a história das fotos do linchamento num Brasil pós-Abertura. Bete Balanço funciona também como espelho da geração 80 e seus modismos, expressões, desejos, sonhos.

Débora Bloch interpreta o papel-título. Este foi o seu segundo filme; antes trabalhou em Noites do Sertão (1984). Por sua participação nos dois foi escolhida a melhor atriz de 1984 pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA). Lobão, que naquela época era acompanhado d’Os Ronaldos, aparecem cantando “Me chama”. E o Barão Vermelho participava em sua formação original: Cazuza – voz, Roberto Frejat – guitarra, Dé – baixo, Guto – bateria, Maurício Barros – teclado. Cazuza também é ator do filme, interpretando o personagem Tininho, e com Frejat compôs especialmente duas canções para o filme: “Bete Balanço” e “Amor, Amor”, dois sucessos instantâneos, lançados em compacto simples (Som Livre) três meses antes da estréia do longa; a trilha completa saiu em LP (Som Livre, 1984).

O diretor Lael Rodrigues, paulistano de nascimento (1951), era mineiro de criação. Estudou arquitetura na Universidade de Brasília e cinema na Universidade Federal Fluminense. Da sociedade com Tizuka Yamasaki, Carlos Alberto Diniz, José Frazão e Mendel Rabinovich criou o CPC – Centro de Produção e Comunicação – que vai produzir filmes como J. S. Brown, o Último Herói (1978, Frazão) e Patriamada (1985, Yamasaki). Foi diretor de diversos curtas-metragens desde 1973. Montador de Se segura malandro (1978) e Bar Esperança (1983), ambos de Hugo Carvana ou de Gaijin, Caminhos da Liberdade (1980) e Parahyba Mulher Macho (1983), ambos de Yamasaki. Assina também a montagem de seu longa de estréia, Bete Balanço, grande sucesso de público desde o lançamento no Rio de Janeiro em 30 de Julho de 1984. Lael Rodrigues faleceu em 1989.

Fonte: Programadora Brasil


Fabricando Tom Zé

março 28, 2010

O músico Tom Zé é o primeiro personagem a aparecer na programação de abril do Benedita Cineclube. O ciclo Música e Contexto tem início com o documentário Fabricando Tom Zé, de Décio Matos Jr. que será exibido no próximo sábado, dia 3 de abril, às 16h.

O Filme
FABRICANDO TOM ZÉ (BRASIL, 2006, documentário, 89 min)  retrata a vida e obra de um dos mais controversos Tropicalistas.

Sem censura e de forma muito espontânea, ele conta como começou sua carreira na década de 60, fala abertamente do ostracismo nos anos 70 e de seu ressurgimento no início anos 90. O filme ainda conta com entrevistas de Gilberto Gil, Caetano Veloso, David Byrne e outros.

FABRICANDO TOM ZÉ revela porquê, aos 70 anos, Tom Zé ainda é considerado um músico de vanguarda, detentor de uma produção e de um estilo único e altamente original de fazer música.

Sobre Tom Zé

Tom Zé sempre disse que, por ser péssimo músico, precisou se reinventar e descobrir uma nova forma de fazer música. Pode parecer exagero, mas ele não estaria mais certo se tivesse uma opinião diferente de si próprio. Este baiano nascido em Irará, no Recôncavo Baiano, sempre foi um vanguardista. Em vez de querer se tornar um cantor ou músico como os outros, resolveu fazer a sua música. E esta música tão particular de Tom Zé nasce dos nada ortodoxos sons de enceradeiras, capacetes, soldas e tantos outros ‘utensílios’ que o ajudam a construir um universo musical único. Nem sempre suas criações são compreendidas e aceitas pelo público, críticos e próprios músicos. Mas quando calha de ser compreendido, Tom Zé recebe o título de um dos músicos mais brilhantes da música brasileira e mundial.

Pode parecer muito para este baiano que aprendeu a tocar violão na infância e começou a fazer suas primeiras canções inspiradas nos personagens e acontecimentos de Irará. Tom Zé chama estas primeiras composições de Imprensa Cantada. Tempos depois, já na adolescência, mesmo achando sua voz péssima para o canto, muda-se para Salvador, onde havia ganhado uma bolsa de estudos da Faculdade de Música da Bahia. É então que se inicia uma das fases mais ricas de sua vida, quando tem aulas com mestres como J.H. Koellreuter, Walter Smetak e Ernst Widmer.

É nesta mesma época que faz amizades que mudam sua vida e sua carreira. Entre os amigos, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Maria Bethânia e Gal Costa, com quem monta o histórico Nós, Por Exemplo nº 2, no Teatro Castro Alves, em Salvador. Em 1968, é convidado por Caetano a se mudar para São Paulo, onde entra para o movimento Tropicalista. A partir daí, Tom ganha visibilidade e vence com a composição São Paulo, Meu Amor o festival de música mais importante do Brasil naquele tempo, o Festival da Canção da TV Record. Esta época de ouro da música brasileira também marcou o auge da ditadura militar. Os Anos de Chumbo acabaram por minar as forças criativas de muitos artistas e obrigaram Gil e Caetano a se exilarem no exterior. Logo após este período, Tom Zé, que ficou no país, passou por uma fase de esquecimento. Foi o preço que pagou por se manter fiel a seus ideais rebeldes. Este tempo de reclusão e sofrimento foi traduzido por ele em Todos os Olhos em 1973, álbum com o qual mandou seu recado de rebeldia à ditadura militar.

Mesmo com trabalhos magistrais, Tom Zé continuava longe dos olhos do grande público e subestimado por crítica e formadores de opinião. Mas o rumo de sua carreira, e de sua vida, mudou radicalmente no final dos anos 80, quando David Byrne, artista multimídia e líder dos Talking Heads, ‘descobriu’ Tom Zé. Em um exemplo clássico do provincianismo que faz com que um artista brasileiro só receba o reconhecimento merecido de seus compatriotas depois de ganhar o selo de qualidade no exterior, Tom Zé voltou a fazer sucesso no Brasil. Pelo seu selo, Byrne lançou a coletânea The Best of Tom Zé e os CDs The Hips of Tradition e Com Defeito de Fabricação. O músico, que comprou por acaso um álbum de Tom Zé em uma passagem pelo Rio de Janeiro, ainda lançou o álbum Post Modern Platôs, em que nomes como Sean Lennon, John McEntire (Tortoise) e Amon Tobin remixaram as músicas de Tom. A partir daí, Tom Zé fez shows em Nova York, Paris, Londres, entre outras cidades.

Mas a confirmação popular e definitiva da repercussão que sua carreira internacional exerceu no Brasil só se deu em 1999, durante o Abril Pró Rock em Recife. Em uma noite regada a shows de bandas de rock como Sepultura, o show de Tom Zé recebeu a maior ovação da história do festival, levando o público e artista às lágrimas. Desde então, sua obra vem sendo reconhecida de tal forma que Tom Zé já realizou desde composições de trilha sonora para apresentação do Grupo Corpo, atuou no filme Sábado, de Ugo Giorgetti e ganhou até mesmo uma surpreendente homenagem da equipe de nado sincronizado brasileiro nos Jogos Pan Americanos de Santo Domingo, que conquistou a medalha de bronze usando sua música como trilha musical.

Em 2003, Tom Zé foi mestre de cerimônias da noite brasileira do MIDEM em Cannes. No mesmo ano, lançou o disco Imprensa Cantada, um DVD do show Jogos de Armar e o livro Tropicalista Lenta Luta. Em 2004, a canção São Paulo, Meu Amor foi tema da campanha das comemorações dos 450 anos de São Paulo. Nada mais justo. Afinal, Tom Zé é o mais paulistano dos baianos e conseguiu sintetizar muito bem todo o “espírito” desta grande metrópole.

É o caráter único de sua criação e de sua trajetória que faz com que seja tão importante registrar a vida de Tom Zé, lançando mão de métodos heterogêneos para retratar este artista que tem como maior característica o “inusitado”, não apenas nas letras (por vezes líricas, outras vezes irreverentes e desconcertantes), mas, principalmente, na sua música e na forma experimental de se expressar. Tom quebra todos os parâmetros usuais e reinventa sons, lançando mão de ‘instrumentos’ nada comuns como eletrodomésticos, serrotes, buzinas. Faz sempre questão de criar uma atmosfera especial e contagiante em seus shows.

Aos 70 anos, Tom Zé esbanja vitalidade e é mais do que nunca um músico de vanguarda. Tanto que neste ano de 2007, Tom recebeu o Prêmio Shell de música, uma honra reservada a poucos. Seu estilo único é prova de que, como bem diz Byrne, “seu trabalho, novo e velho, ainda é completamente contemporâneo, não só no Brasil, mas em Nova York, Londres e Zurique.”

Equipe Técnica de Fabricando Tom Zé

direção: Décio Matos Jr.

roteiro: Décio Matos Jr., Matias Mariani, Omar Leite Jundi e Eliane Ferreira

produção: Décio Matos Jr., Matias Mariani, Omar Leite Jundi e Eliane Ferreira

co-produção: Patrick Siaretta

produção executiva: Eliane Ferreira, Matias Mariani

fotografia:Lula Carvalho

montagem:Letícia Giffoni

som direto: Aloysio Compasso

desenho de som: Beto Ferraz

mixagem: José Luiz Sasso

gravação de shows: Diego Guimarães

videografismo: Sofia Costa Pinto

música:Tom Zé

produtoras:Goiabada Productions / Spectra Mídia / Muiraquitã Filmes / Primo Filmes

distribuidora:Filmes do Estação

site oficial:http://www.fabricandotomze.com.br

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